Bicho de estimação

willian
2 min readJan 20, 2024

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Quando minha irmã foi estudar na Europa, a Piti ficou sem lugar. Meus pais se mudaram para um apartamento pequeno. No quarto-sala que eu moro, uma vira-lata é inviável. Com o comportamento antissocial dela, é impraticável ela viver com os dois cachorros grandes do meu irmão. Sobrou o quintal da minha tia.

A Piti chegou bem filhote. Na adolescência aprendeu a dar a pata, a sentar e a deitar. Hoje é uma anciã ranzinza que odeia veterinário e rosna até para a irmã adotiva dela, a Princesa.

O pingo foi o meu primeiro cachorro. Eu devia ter uns 6 anos. Era da raça da moda na década de 90, um poodle branco. Veio de São Paulo para a Serra com meus avós paternos. Em um dia comum, no meio da rotina matinal, ele correu em direção da minha mãe, que estava do outro lado da avenida jogando o lixo fora. Antes de completar um ano, morreu atropelado. O motorista nem parou. Minha mãe jurou que não iria mais ter cachorro em casa.

A Tati foi a cadela que viveu mais tempo. Ela veio numa gaiola, com uma de suas irmãs, poucas horas após ter mamado pela última vez. Minha mãe disse que ia cuidar só de uma delas. A única que abanou o rabo quando cheguei perto foi a Tati. Foi a que ficou.

Ainda nos primeiros dias, ela ia da cozinha pra sala chorando. Minha mãe disse que filhotes procuram a mãe quando saem de casa. Não queria que a Tati sentisse falta da mãe, então, soluçando, disse para meus pais devolverem ela. Minha mãe me explicou que ela logo não sentiria mais falta da mãe e se acostumaria. Se acostumou bem por 14 anos.

O Lupi foi o cachorro que eu quase esqueci. Eu nem lembro como que ele chegou. Era outro vira lata. Ele não gostava do meu irmão, avançava nele em toda oportunidade que tinha. Meus pais não tiveram escolha e deram para o pedreiro que construiu a casa da minha família, o Aarão.

Aarão tinha uma casa na praia. Quase todo final de semana a gente ia pra lá. O cachorro ficava tão feliz em nos ver que no final da tarde, na hora de ir embora, Lupi fugia pelo portão da garagem, e seguia nosso carro até se cansar e ter que voltar. Eu me levantava no banco traseiro e via pelo para-brisa traseiro ele correndo atrás de nós pelas ruas de Bicanga. Essa é a última lembrança que tenho dele. Nunca entendi se ele tava brincando, ou se queria voltar pra casa.

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