O caos perpétuo que é a rodoviária Novo Rio deveria ser caso de estudo científico. Ao entrar naquele lugar, você percebe que ali os polos são invertidos. E no sete de setembro, as coisas se agravam.
Meu ônibus saía às vinte e três e cinquenta. Eram onze e sete, e o das dez e dez ainda estava na plataforma. A ansiedade já falava: vamos sair daqui só as 3 da madrugada.
O ônibus saiu no horário previsto. Afirmando, mais uma vez, que você nunca sabe o que pode acontecer naquele lugar.
A viagem foi rápida. Às cerca das 7h já chegávamos na Segunda Ponte, em Cariacica. Segunda-feira, horário de pico.
Uma breve explicação da geografia da capital capixaba: O destino era a Praça do Papa, que fica a alguns quilômetros depois da rodoviária. Para chegar até a rodoviária, a rota passa pelo município de Cariacica e atravessa uma ponte até Vitória.
Na subida da ponte, o motorista, de repente, abriu a cabine e disse:
— Recebi a notícia que existe uma manifestação dos enfermeiros na Praça do Papa e esse trafego continua, assim, parado.
Inspirado pelo ato democrático das ruas, continuou:
— Tenho uma proposta para vocês: se todos concordarem, eu paro na rodoviária e todo mundo desce. Uma manifestação contrária, o destino continua o mesmo.
Veja bem, pelas informações que tínhamos, a diferença entre as opções eram quilômetros a mais num engarrafamento que não andava.
A ansiedade mais uma vez falava: nessa velocidade só saio desse ônibus ao meio-dia.
Durante a votação eu não disse um pio. Nem os outros passageiros. Até que, nos últimos instantes do sufrágio silencioso, uma moça tomou coragem e levantou a mão. Ela queria descer na Praça do Papa. Então, todos teriam que descer na Praça do Papa.
O clima pesou.
O motorista, mentor daquela situação, não se preocupou, entrou na sua cabine e fechou a porta.
O ônibus andava a passos de tartaruga e a discussão era generalizada. As pessoas tinham que trabalhar. A moça queria descer no destino para o qual ela pagou. Eram vinte contra uma, mas a democracia tem dessas.
Passado 30 minutos, descemos da ponte e não havia trânsito. Não houve manifestação. Era só o cotidiano. Chegamos no destino na hora marcada na passagem. Cada um foi para onde precisava e, aparentemente, o caos pegou a condução de volta para a Novo Rio.